Os convidados desculpam-se, embora o Reino não esteja fechado a ninguém que não se exclua a si próprio […]. Na sua bondade, o Senhor convida todos; só a nossa cobardia ou a nossa loucura nos afastam dele. Aqueles que preferem comprar um campo não têm lugar no Reino: no tempo de Noé, compradores e vendedores foram engolidos pelo dilúvio (cf Lc 17,26-28) […]; o mesmo acontecerá a quem se desculpa porque acabou de se casar, pois está escrito: «Se alguém vier ter comigo, e não Me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e até à própria vida, nãoLeia mais →

A misericórdia e a beneficência são amigas de Deus; quando elas se estabelecem no coração de um homem, divinizam-no e o moldam segundo a semelhança do Bem soberano, para que ele seja imagem da primeira e imaculada essência, que ultrapassa todo conhecimento. Vós, portanto, criaturas racionais, dotadas de inteligência capaz de interpretar e ensinar as coisas divinas, não vos deixeis seduzir pelas realidades passageiras; esforçai-vos antes por alcançar Aquele pelo qual tudo se torna eterno. Limitai-vos no uso dos bens desta vida: as coisas não vos pertencem. Deixai, pois, uma parte do que possuís para os pobres, que são amados por Deus, pois tudo pertenceLeia mais →

«Como são lindos os teus olhos de pomba», diz o Esposo [do Cântico dos Cânticos] (Ct 1,15). O louvor que fazemos aos olhos [da Esposa] é dizer que são como de pomba. Eis o que, a meu ver, isso significa. Quando as pupilas são claras, quem as fixa pode ver nelas a própria face. Com efeito, os especialistas do estudo dos fenómenos da natureza dizem que o olho é impressionado pelas imagens emanadas pelos objetos visíveis e que é assim que se produz a visão. É por isso que louvamos a beleza dos olhos, dizendo que a imagem da pomba aparece na sua pupila: porqueLeia mais →

«Ao ouvir tal notícia [do nascimento de Jesus], Herodes perturbou-se e toda a Jerusalém com ele» (Mt 2,3). […] É o mistério da Paixão, que aparecia já na mirra dos Magos; os recém-nascidos foram massacrados sem dó nem piedade. […] O que significa esta matança de crianças? Como ousou Herodes cometer crime tão horrendo? Um estranho sinal apareceu no céu, anunciando aos Magos a chegada doutro rei. Entendes, Herodes, o significado destes sinais? […] Se Jesus é o Senhor dos astros, não estará protegido dos teus ataques? Julgas ter poder de vida e de morte, mas não tens nada a temer de criança tão terna.Leia mais →

A fundação da Igreja é uma criação do mundo; nela, na expressão do profeta (cf Is 65,17), foi criado um novo Céu — que é «a solidez da fé em Cristo», como diz São Paulo (Cl 2,5) –, foi fundada uma nova Terra, «que bebe a chuva que cai sobre ela» (Hb 6,7), foi modelado outro homem, renovado pelo nascimento do alto, à imagem do seu Criador; torna-se outra a natureza dos astros, dos quais se diz: «Vós sois a luz do mundo» e «Brilhais como luzes para o mundo» (Fil 2,15) e como astros numerosos que se erguem no firmamento da fé. Não éLeia mais →

Com razão refere o Verbo os leões e os leopardos, a fim de tornar mais doce, por comparação com coisas desagradáveis, o usufruto daquilo que é agradável. […] Tendo perdido a semelhança com Deus, o homem transformou-se num animal selvagem, à imitação da natureza animal, tornando-se leopardo e leão pela sua vida de pecado. […] A vida em paz torna-se mais doce após uma guerra, e deliciosa em comparação com os relatos sombrios. A saúde é um bem mais doce para os sentidos do nosso corpo quando, saindo dos horrores da doença, a nossa natureza se restabelece. E o divino Esposo, para fazer crescer naLeia mais →

«Levanta-te e vem, minha bem-amada, minha bela, minha pomba» (Cant 2,10). A natureza divina convida a alma humana a participar dela, transcendendo-a sempre pela sua eminência no bem. A alma cresce na sua participação no transcendente e nunca deixa de crescer; mas o bem no qual participa permanece o mesmo, manifestando-se sempre igualmente transcendente à alma que dele participa sempre mais. Deste modo, vemos o Verbo guiar a esposa para os cumes pelo crescimento na virtude, como quem sobe uma escada. Primeiro, envia-lhe um raio de luz pelas janelas dos profetas e as treliças dos mandamentos da Lei, ordenando-lhe que se aproxime da luz eLeia mais →

 Não chega levantares-te da tua queda, diz [o Esposo], avança e progride no Bem até ao fim do teu caminho na virtude. É isto que nos ensina a história do paralítico: o Verbo não Se contenta em o fazer levantar da sua enxerga, mas ordena-lhe que ande (cf Mt 9,5). O movimento da marcha significa, penso eu, a progressão e o crescimento no Bem. «Levanta-te! Anda, vem daí…»: quanto poder existe nesta ordem! A voz de Deus é verdadeiramente uma voz poderosa, como diz o salmista: «Faz ouvir a sua voz, que é poderosa» (Sl 67,34) e: «Ele disse e tudo foi feito, Ele ordenouLeia mais →

«É com razão que te amam» (Ct 1,4): recebemos aqui um ensinamento particularmente elevado, a saber, a caridade que devemos ter com Deus e a conduta que devemos ter com os homens. Se é preciso que «tudo aconteça com decoro e com ordem» (1Cor 14,40), quão mais rigorosa deve ser a ordem a este nível. […] Conheçamos, pois, a ordem da caridade que a Lei nos ensina, isto é, que devemos amar a Deus e amar os nossos inimigos, para nunca invertermos a ordem do cumprimento da caridade. Temos de amar a Deus com todo o nosso coração, com toda a nossa alma, com todasLeia mais →

O Senhor recomendou aos seus discípulos que sacudissem como a pó tudo o que a sua natureza tem de terreno, para que o seu espírito se elevasse até às realidades sobrenaturais; quem se volta para a vida do alto deve ser mais forte que o sono e manter o espírito sempre vigilante. […] Refiro-me ao adormecimento dos que vivem mergulhados na mentira da vida pelos sonhos ilusórios que são as honras, as riquezas, o poder, o fascínio dos prazeres, a ambição, a sede de gozo, a vaidade e tudo o que a imaginação leva os homens superficiais a procurar insensatamente. Todas essas coisas se esgotamLeia mais →