«Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão» (Lc 16:31)
D. Irineo​
Bispo de Tropaion

SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS​

Eothinon 10: Jo 21:1-14
Epistola (Apóstolos): Gl 2:16-20
Evangelho: Lc 16:19-31
(Modo 4º)

D. Irineo​
Bispo de Tropaion

O Rico e Lázaro:

«Juízo e a Graça que Transforma»​

Neste quinto domingo do Evangelho de São Lucas, a Santa Igreja nos coloca diante da parábola do rico e do pobre Lázaro (Lc 16,19-31), iluminada pela palavra apostólica que nos recorda que “já não sou eu quem vivo, mas Cristo vive em mim” (Gl 2,16-20). A fé que o Apóstolo testemunha não é conceito, mas vida nova: um coração transformado pela graça, capaz de amar a Deus e ao próximo. E é precisamente essa transformação que falta ao homem rico da parábola.

A pobreza e a riqueza acompanham a humanidade desde o princípio. Há quem veja na riqueza sinal de mérito, inteligência ou bênção, e na pobreza sinal de fracasso ou desgraça. Outros condenam toda riqueza como injusta. A revelação divina, porém, não se prende a simplificações. No Antigo Testamento, muitas vezes o próspero é visto como abençoado; mas em Cristo, o pobre torna-se bem-aventurado, e o rico é advertido: “Ai de vós, ricos…” (Lc 6,24). Porque o problema não é possuir, mas criar para si um mundo fechado, onde o outro não tem lugar.

O rico da parábola não é descrito como ladrão ou adúltero. Não se diz que explorou ninguém. Seu erro é mais profundo e mais comum: viveu como se Deus e o próximo não existissem. Vestia-se magnificamente, banqueteava-se esplendidamente, mas não via Lázaro, que jazia diante de sua porta. O Evangelho não o condena por ter riquezas, mas por não ter compaixão. Como ensina São João de Kronstadt, “a culpa é a dureza do coração”.

Lázaro, por sua vez, não é exaltado por ser pobre, mas porque, na pobreza e no sofrimento, confiou em Deus com humildade e paciência. “A pobreza não é garantia de santidade”, recordam os Padres; não é o estado social, mas o coração que pesa no juízo. Lázaro entrou no descanso não porque nada tinha, mas porque tudo esperava de Deus.

Na morte, a verdade vem à tona: os papéis se invertem. A mesa do rico se torna deserto, e o mendigo é acolhido “no seio de Abraão”. Não porque Deus ama os pobres e rejeita os ricos, mas porque Deus convida e o homem responde; e a resposta daquele rico foi viver fechado, cego, surdo. “Entre nós e vós foi posto grande abismo” não é punição arbitrária, mas a revelação do abismo que ele cavou em vida, quando jamais atravessou a pequena distância entre a sua porta e Lázaro.

E, no entanto, há um detalhe que a tradição espiritual contempla com tremor e esperança: o rico, atormentado, pensa em seus irmãos e deseja poupá-los. Em meio à sombra, surge uma centelha de compaixão. Evágrio vê ali “a semente da virtude, que é indestrutível”. Mesmo no Hades, o ser humano não deixa de ser imagem de Deus; mas a porta do amor precisa ser aberta nesta vida, enquanto há tempo, lágrimas e escolhas.

A palavra de Cristo é clara: “Têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos”. Hoje, a Igreja nos diz: temos o Evangelho, temos os Sacramentos, temos o clamor dos pobres, temos Cristo diante de nós. Quem não aprende a ver Cristo no pobre, quem não abre a porta do coração agora, talvez deseje abrir depois… mas pela própria alma deformada já não saberá como fazê-lo.

O Apóstolo nos dá a chave: “Vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim”. Se Cristo vive em nós, nosso coração se torna ponte, nunca muro; mesa aberta, nunca banquete fechado; fonte de misericórdia, nunca espelho de vaidade. “A medida que usardes será usada convosco”, diz o Senhor. Caridade não é ornamento: é caminho de salvação.

Eis o chamado deste domingo: abrir os olhos antes que seja tarde; atravessar hoje o pequeno abismo entre nós e o irmão, para que amanhã não encontremos um grande abismo entre nós e Deus. A riqueza que salva é a riqueza da misericórdia; o tesouro que levamos ao Reino é o amor concreto, o cuidado real, a mão estendida, o pão repartido, a lágrima enxugada.

Que aprendamos a ver Lázaro ainda à porta — nos pobres, nos doentes, nos solitários, nos esquecidos, e também em nós mesmos quando a vida nos lembrar nossa fragilidade. E que, ao praticarmos a misericórdia, encontremos nós mesmos as portas do Reino abertas; ali onde Cristo Servidor, que Se fez pobre por nós, nos espera para Sua mesa eterna.

A Ele, glória pelos séculos! Amém.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
  1. AGOSTINHO, Santo. Sermões (33A, 41, 299E, 367).
  2. JERÔNIMO, São. Sobre Lázaro e o Rico.
  3. CIRILO DE ALEXANDRIA, São. Comentário a Lucas, Homilia 111.
  4. GREGÓRIO DE NISSA, São. Sobre a Alma e a Ressurreição.
  5. GREGÓRIO MAGNO, São. Diálogos, IV, 30.
  6. EFRÉM, o Sírio, Santo. Comentário ao Diatessaron, XV.
  7. PEDRO CRISÓLOGO, São. Sermão 122.
  8. EVÁGRIO DO PONTO. Kephalaia Gnostica.
  9. JOÃO DE KRONSTADT, São. Sermão sobre Lc 16,19-31.
  10. DOSTOIÉVSKI, F. Os Irmãos Karamázov, Parte II, Livro VI.

Suplemento Litúrgico

Το φαιδρόν της αναστάσεως κήρυγμα, εκ του αγγέλου μαθούσαι αι του Κυρίου μαθήτριαι, και την προγονικήν απόφασιν απορρίψασαι, τοις αποστόλοις καυχώμεναι έλεγον, εσκύλευται ο θάνατος, ηγέρθη Χριστός ο Θεός, δωρούμενος τω κόσμω το μέγα έλεος.

Ouvindo do Anjo o alegre anúncio da ressurreição, que da antiga condenação nos libertou, as discípulas do Senhor disseram envaidecidas aos apóstolos: «A morte foi vencida, o Cristo Deus ressuscitou, revelando ao mundo a grande misericórdia!»